sábado, 22 de outubro de 2016

5 à Seco| Nó de marujo


Tem quem se contente com pouco, mas a vida sem a mesquinharia de sentimentos é muito melhor. O amor “servidor público” nunca foi meu forte. Mas não é disso que quero falar, o foco aqui é outro. A vida prega umas peças boas na gente -sendo ela toda cheia de encontros, desencontros, caminhos e descaminhos- e quando pensamos que vamos ficar aqui de “boa” deitados em berço esplêndido, ela vem e nos surpreende novamente. É aquela sensação de tentar viver uma vidinha linear, aí vem o destino e dá um tom completamente oposto. Aprendi uma coisa nos últimos anos: a vida é a música, a banda, o salão e o condutor da dança. A gente só baila mesmo e no máximo escolhemos o ritmo. A vida tem desdobramentos que nos atam, é nó de marujo que ninguém desfaz.

Entre as crises de ansiedade e alguns momentos de lucides, tirei os últimos dias para colocar não as ideias, mas as letras nos lugares devidos. Porque muitas são as vezes que nos sentimos sozinhos, mas depois a gente se dá conta de que difícil mesmo é viver com a dissonância de pensamentos ao nosso redor. Então é nesses momentos em que silenciar o nosso redor é necessário para poder seguir nossa própria consciência, porque no final das contas, ninguém, absolutamente ninguém, pode viver os dias em nosso lugar, nem os bons e nem os ruins.

Com isso, a gente a prende a filtrar o que escuta e, principalmente, o que falamos. Dosar a fala é sempre interessante, levando em conta que nunca sabemos o destino final e a interpretação de tudo que há implícito nelas. Nenhuma palavra é efêmera, no frigir dos ovos todas elas têm um endereço que vem acompanhado de uma experiência prévia.

Eu sou feito nós
A nóia do algoz
Amarra os nossos nós
Sou complicado feito nós

No meio disso tudo, a gente se encontra. Em palavras, lagrimas, dores e amores. Por esses dias, disse isso ao meu avô, o quanto estamos todos cheios de sonhos, amores e dores que nos fazem continuar caminhando. É essa inconstância da vida que nos move, não podemos ser plenos em meio a burocracia dos sentimentos. Ninguém consegue manter aparências por muito tempo, do mesmo jeito que não somos capazes de esconder nossas paixões. Tem hora que a gente só quer gritar, porque o turbilhão dentro de nós já não dá mais conta.

E é assim que a gente se emaranha na vida. Sendo intensos e perdendo o medo de expor sentimento. Tem quem goste de brincadeira de faz de conta, faz de conta que é feliz, faz de conta que o que vive é o suficiente. Eu vivo entre aqueles que nunca foram bons em pôquer por não saber blefar, então eu vivo me atando em situações que são incompreensíveis até para mim. Mas pode dizer uma coisa com toda certeza: nunca me arrependi de nada que vivi ou que vivo. Acho que estaria arrependida se estivesse suprimido tudo e nunca tivesse tentado. A vida é um jogo de tudo ou nada, nunca tive paciência para sentar no muro e esperar as coisas se resolverem. Lembrando sempre, a nossa única opção é escolher o ritmo, o resto a gente só segue a toada.

Somos feito nós
Se a ponta achar a foz
Os dois ficam sem voz
Embaraçados feito nós


O 5 à Seco é a trilha que rondou minha cabeças nos últimos dias para entender toda essa enxurrada de pensamentos. Pedro Viáfora, que eu já citei aqui antes quando escrevi sobre a música Gargalhadas, e os seus parceiros do 5 à Seco se utilizaram dos artifícios da linguagem para musicar o embaraçar de qualquer mente quando se cruza com essa nuance do destino que se chama amor. Feito Nós, se utiliza das figuras de linguagem para representar o emaranhado que a gente sente na cabeça e no estomago quando cruzamos com esse sentimento complexo chamado amor. É algo duro, incompreensível para os que estão de fora e que silencia. A gente fica sem voz e sem medo.

O detalhe é o como a gente acaba por vivenciar o amor em suas várias faces enquanto vivemos, mas em todas elas fica difícil não o distinguir de outros sentimentos.

Como faz, por favor?
Tentei desatar: apertou, apertou
Alguém mais? um amor?
Queira me puxar que eu vou,
Eu vou


Amor é matéria que ninguém alcança, só sente. Dessa maneira, fica difícil julgar qualquer coisa que advenha dele. Sendo assim, só resta a cada um viver a parte que lhe cabe, não podemos advogar causa alheia e muito menos interferir na vivencia do outro. Cada um ouve a estação que cabe a sua transmissão, mas do que isso é isso é interferência de sinal no rádio alheio. 

1 comentários:

Ana Seerig disse...

Perfeito, guria!
Ando numa fase assim também, sabe? Tentando me relocalizar. Consciente e inconscientemente muita coisa parece ter mudado depois da minha ida a Recife e estou tentando me reencontrar, me reorganizar e colocar minhas palavras no lugar. Escrever a carta que te devo (com certa monografia impressa que também te devo).

Não conheço a banda, mas vou averiguar já!

Obrigada pelo post! Essa semana mesmo tava me lembrando que tinha que vir aqui ver as tuas postagens...

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